quinta-feira, 21 de julho de 2011

Iggy Pop



Iggy Pop já é uma lenda. Punk uma década antes do punk existir, ele simboliza e corporifica o que de mais anárquico e provocativo o rock tem feito. Suas canções são umas misturas de versos insolentes com uma sonoridade rápida, crua, furiosa e pesada. No final dos anos 60, Iggy Pop à frente dos Stooges fazia performances chocantes e energéticas, o que incluía se lambuzar de pasta de amendoim e rolar num palco cheio de cacos de vidro. Isto é, numa das épocas mais loucas da história, Iggy Pop mostrava-se bem à frente dela.

James Jewel Osterberg (seu verdadeiro nome) nasceu em 21 de abril de 1947 em Ypsilanti, Michigan (EUA), e cresceu morando num camping para trailers. Na adolescência, foi baterista de uma banda de garagem chamada Iguanas e, em 1966, após abandonar a Universidade de Michigan, foi para Chicago. Mas não ficou muito tempo por lá. Inspirado pelo blues local, ele rumou para Detroit e junto com os irmãos Ron e Scott Asheton, seus amigos de infância, formou a banda Psychedelic Stooges.


Mas não foi só a influência do blues elétrico e do rock industrial de Detroit, feito pelo MC5 por exemplo, que fez a cabeça de Iggy Pop. Um dos fatores mais impactantes para ele foi descobrir o Velvet Underground, banda nova-iorquina de Lou Reed e John Cale. Um vocalista que não sabia cantar direito e um som experimental mostraram a Iggy que era possível fazer rock sem ser um instrumentista virtuoso ou uma voz afinada. Esse, aliás, seria um dos princípios mais importantes do punk rock que eclodiria quase uma década depois.

Em 1969, já chamando apenas The Stooges, eles lançaram o primeiro álbum produzido justamente por John Cale, do Velvet Underground. O disco trouxe duas canções que virariam clássicos do rock e precursoras da sonoridade e poética do punk: “I Wanna Be Your Dog” e “No Fun”.  Logo a seguir, os Stooges surgiam com mais um petardo sonoro de fúria e energia: “Fun House”. Os dois álbuns e as performances insanas de Iggy no palco, que incluíam seus mergulhos sobre a plateia, tornaram os Stooges cultuados na cena independente norte-americana.


Mas o sucesso na cena alternativa não garantia vendagens astronômicas dos álbuns e, além disso, Iggy Pop cada vez mais se afundava no vício em heroína, que o levou a se afastar dos shows. Nesse período longe dos palcos e estúdios, Iggy foi procurado por David Bowie que o ajudou a se recuperar e produziu o retorno dos Stooges. E o apoio de Bowie deu certo. Em 1973, com ele à frente da produção e da mesa de mixagem, os Stooges lançaram “Raw Power”. Considerado um dos mais importantes álbuns da história do rock – o disco teria influenciado do punk ao movimento grunge – “Raw Power” mostra os Stooges em plena forma e traz canções impactantes como “Search and Destroy”.

A importância dos Stooges só seria reconhecida anos mais tarde, bem depois da separação deles em 1974. Iggy só retornaria à cena em 1977. Com o lançamento de “The Idiot” e “Lust for Life”, ambos produzidos e contando com parcerias de David Bowie, ele finalmente conheceria o sucesso comercial.

Após o fim dos Stooges, em 1974, Iggy Pop voltou a ter problemas com drogas e acabou internando-se numa instituição psiquiátrica em Los Angeles. Ele foi então “resgatado” por David Bowie que o levou para acompanhá-lo numa turnê pela Europa. Os dois acabaram fixando residência em Berlim, onde Bowie produziu “The Idiot” e “Lust for Life”, os primeiros álbuns solos de Iggy Pop.

Em 1977, ele voltou aos Estados Unidos para lançar os álbuns e excursionar. Blondie fez os shows de abertura e Bowie o acompanhou no piano. Àquela altura, o movimento punk já estava em cena tanto nos Estados Unidos como na Europa, fazendo uma música e tendo uma atitude que Iggy e os Stooges tinham preconizado no final dos anos 60.


Durante a década de 80 a parceria com Bowie ainda rendeu o sucesso “Let’s Dance” e Iggy emplacou vários hits como “Candy”, um dueto com Kate Pierson, vocalista do B-52’s, e “Real Wild Child”. Isso mais a participação dele em vários filmes fizeram com que Iggy Pop atingisse uma estabilidade financeira no decorrer dos anos 80 e 90 e se consolidasse como um dos mais importantes e influentes artistas do rock.


Nos anos 90, o surgimento do movimento grunge em Seattle teve entre suas inspirações a sonoridade e a agressividade do rock de garagem da cena de Detroit no final dos anos 60, onde Iggy Pop e os Stooges se destacavam. Kurt Cobain, líder do Nirvana, um dos expoentes do grunge, reconhecia que “Raw Power” havia sido um dos álbuns mais influentes para ele. Naquela década ao olharem para trás, os críticos viam claramente que tanto o punk como o grunge deviam muito à atitude e às canções do começo da trajetória de Iggy Pop.

Em 2003, Iggy reuniu os Stooges para uma apresentação no Festival de Coachella. A recepção entusiasmada do público ao retorno do que já era uma lendária banda fez com que eles emendassem uma turnê pela Europa, Ásia e América que durou três anos e que chegou até o Brasil. Em 2007, os Stooges voltaram aos estúdios, mais de três décadas após o lançamento de um álbum, para gravar “The Weiderness”. Mas em janeiro de 2009, a morte do guitarrista Ron Asheton interrompeu o que vinha sendo um presente para as novas gerações: a oportunidade de assistir ao vivo um dos mais influentes grupos da história do rock.


Iggy Pop foi considerado por Lester Bang, o lendário e temido crítico musical norte-americano, “o performer mais intenso e perigoso vivo”. Em sua trajetória, ele sobreviveu a todos os excessos e propagou o espírito insolente e provocativo que definiu o rock como o gênero mais admirado pela juventude há décadas. Em 2009, Iggy lançou o improvável álbum “Préliminaires”, no qual interpreta predominantemente canções de jazz, com direito a uma versão de “Insensatez”, sucesso da bossa-nova composta por Tom Jobim. Só mesmo Iggy Pop para fazer isso sem perder a personalidade e a credibilidade.

Fotos: Reprodução

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